terça-feira, 22 de março de 2016

Impressions of JPN no.#01

OK.... Vamos lá...

Desde que cheguei aqui no Japão (e isso fazem 7 dias agora) muita, mas MUITA, coisa já rolou em termos de conexões mentais, idéias, pensamentos e etc. Tentei parar antes pra escrever mas o fluxo de informação era tão alto que ficava impossível parar. Era literalmente um mar de informação onde a cada dia uma nova onda batia e arrastava tudo. Vou tentar re-capitular os pontos principais.

Tokyo.
Tokyo é um formigueiro. De verdade. Milhões de formiguinhas se deslocando em movimentos frenéticos pra lá e pra cá. São Paulo também tem milhões, mas São Paulo é selva, e não formigueiro. A cultura japonesa promove o pensamento nessa direção, de suprimir o individual em prol do coletivo, essa é a diferença de base, da formiga, e é facilmente perceptível.

Umas das coisas que mais me chamou atenção de cara é a relação com o consumo e capitalismo, que me pareceu completamente diferente da visão ocidental tradicional. As pessoas aqui estão consumindo o tempo todo: restaurantes e lojas por todo lado, sempre lotados, com pessoas entrando e saindo cheio de sacolas e gadgets de última geração. Porém, a relação com tudo isso se estabelece, ao meu ver, à partir de um conceito diferente: o consumo não como um vilão social, nem como uma solução social, nem como uma resposta pro sentido da vida, mas sim como mero entretenimento, ou apenas como algo mais que está aí, sem peso. Ainda não tenho toda a informação necessária pra analisar isso com mais profundidade, é apenas uma primeira impressão, mas já vejo alguns indícios que parecem confirmar essa tese.

O ponto primordial é mais visível quando colocado em comparação direta com minha vida na Europa. A Suiça é considerada o país da diplomacia (quando na verdade estaria mais para o país da hipocrisia) e isso transparece no dia-a-dia local. As pessoas lá (e na maioria do role ocidental) ou estão completamente alienadas vivendo na onda do consumo: compram e consomem sem a mínima consciência e praticamente não veem sentido na vida se não o fizerem; ou tentam fugir do consumo (na medida do possível) buscando vias alternativas (reciclagem, re-utilização, produtos locais, produtores menores, compartilhamento, etc). No Japão a coisa parece acontecer de maneira diferente. Os japoneses são born-geeks, então se eles fazem algo eles querem que esse algo seja o MELHOR. Esse perfeccionismo gera uma especificidade profunda, o que faz com que o MELHOR não seja UM "algo" que sirva pra tudo, mas que cada "algo" seja o melhor específico pra o que ele se presta a fazer. Por exemplo: o japonês não faz uma colher e pronto. ele faz a melhor colher pra arroz, que é diferente da melhor colher pra sopa, que é diferente da melhor colher pra cozinhar, que é diferente da melhor colher pra café, que é diferente da melhor colher pra sei la o que... e isso pra tudo! Eles são fascinados pela maestria, THE MASTERY. E o consumidor reconhece isso, e da valor. Então embora o consumo seja intenso existe uma valorização real, e um motivo "justificável". As pessoas não consomem "porque sim", mas porque valorizam e exaltam sua própria cultura nerd e inventiva. Você vai numa loja de departamento, por exemplo, e a variedade de produtos é imeeeeensa! Tipo sei lá, massageador pra cadeira, massageador pro ombro, massageador pro pé, massageador pra mesa de trabalho, massageador pro braço, massageador pra cabeça, óculos massageador pro olho, capacete massageador pra cabeça rosto e olho, mini massageador portátil; e daí na seção de barbeador a mesma gama de variantes infinitas; e na seção de cozinha; e na seção de televisão... e assim vai....

Isso também transparece muito também na publicidade e em como eles anunciam seus produtos (que também me fascina!). Enquanto no Brasil e na Europa a tendência é "humanizar" a publicidade, ou seja, tentar fazer parecer o mais próximo da vida real, simular o real, sem efeitos especiais, e sem muito delírio, a publicidade japonesa taca o foda-se. hahahaha. É como se eles admitissem já de cara "Galera, publicidade é publicidade. É tudo magia.", então ninguém se sente enganado, e ninguém sente como se estivesse enganando ninguém. É tipo: "TOME ESTE SUCO E VC VAI VOAR PELO ESPAÇO COM PODERES ESPECIAIS!", ou "COM ESTE CARRO VOCE VAI SE TORNAR O HOMEM MAIS SEXY DO PLANETA", ou "ESSE KIT DE MAQUIAGEM VAI FAZER SUA PELE FICAR MACIA COMO UMA NUVEM E VOCE VAI FLUTUAR NO CÉU DE TANTA BELEZA" hahahahaha. O que torna o mundo bem mais divertido, e lúdico, ao mesmo tempo que cria uma vontade de consumir mas com um distanciamento mais saudável: no fundo você sabe que não é verdade mas é divertido acreditar, pq né, vai que funciona hahahahah!

Isso está bastante relacionado com uma espécie de teoria que eu comecei a desenvolver faz um tempo que chamo de "ADULTISMO". Na verdade eu cheguei nesse conceito e depois comecei a pesquisar, e descobri que é algo que já existe mas que não é muito difundido. Basicamente o adultismo é a forma primaria de todos os preconceitos, é a primeira barreira que colocamos que estabelece uma relação de pessoa inferior VS pessoa superior. O adultismo depois pode ser transformar em machismo, racismo, e varios outros ismos por aí. Enfim. No Japão, esse conceito também não se aplica da mesma maneira. Com certeza eles tem outros conceitos que se problematizam socialmente (como das hierarquias profissionais por exemplo), mas em todo caso, em primeira a análise, a dialética INFANTIL VS ADULTO não é algo que esteja evidente, muito pelo contrário, o que é evidente é justamente a ausência desse problema. Aqui gostar de video game, de musiquinha engraçada, de fazer careta, de desenho animado, de coisinhas coloridas, de cantar e dançar, de dar cambalhota, de piadas com xixi e coco não são consideradas coisas de criança. Praticamente o adjetivo "infantil" não faz quase sentido aqui. Nada é infantil, pq não existe um muro entre o infantil e o adulto. E isso é fantástico! Fantástico porque eu posso continuar sendo como eu sou e ainda ser aceito e respeitado socialmente (AHHAHAHAHAHHA) mas mais fantástico ainda porque gera uma proximidade muito maior entre crianças, adultos e idosos. Eu fui no Museu do Futuro e Tecnologia de Tokyo e já de cara a exposição temporária se chamava "GAME-ON - Why video games are so intersting" (Isso por sí só já é um marco, que um orgão público promova uma exposição sobre video-games num museu de grande porte). E o público da exposição eram famílias, claro, e todos interessados no assunto ao mesmo nível. Criancinhas jogando com os pais, adolescentes, tiozinhos... Já na parte de exposição permanente também um approach similar, onde todas as instalações se serviam de uma didática universal, que era ao mesmo tempo "infantil" e "adulto", explicando tudo com bastante clareza, de forma profunda e divertida e simples (não simplista) ao mesmo tempo.

Claro, falta saber as consequências desse consumo desenfreado, mas até onde entendi o segredo está numa alta tecnologia de reciclagem. Eu vi não lembro onde eles dizendo que com a quantidade de equipamentos eletrônicos que já existem no Japão eles não precisam mais extrair algumas matérias primas, porque só reciclando isso que eles já tem da pra re-fazer tudo e melhor hahahah. Nessa mesma exposição do museu de tecnologia de Tokyo eles explicavam que o princípio de reciclagem que eles seguem no Japão é o mesmo da natureza, onde não há perda de material. Por exemplo, uma árvore nasce, cresce, morre, uns animais comem os musgos que formam, uns cogumelos se alimentam dos galhos pra crescer, outros insetos e minhocas se alimentam dos restos, até que a madeira desaparece pq toda sua matéria foi utilizada para outros fins. (meio óbvio mas incrível como pensamento de base para um sistema). Na prática se isso realmente acontece, vamos descobrir!

De qualquer forma, nessa primeira visão a Japão (e tokyo) me pareceram pra mim como um lugar cheio de oportunidades! Eles são super criativos e super produtivos, então tem sempre muita coisa acontecendo. O que me faz pensar que muito ainda está por vir pois por aqui....

NADA ESTÁ PARADO.

:)

sábado, 4 de julho de 2015

Why marriage

Julho de 2015, finalmente um passo importante no que consiste progresso humanista foi dado. O país de maior influência global decidiu legalizar o casamento gay em todos seus estados e o mundo inteiro (ou facebook inteiro) celebrou! Eu, por exemplo, fui um dos primeiros a mudar minha fotinho do facebook para um arco-iris colorido, seguido por grande parte dos meus amigos. Devo admitir que a página ficou muito mais bonita e alegre, afinal de contas o termo "gay" vem de "alegria" e "felicidade".

Entendo que chegar à esse ponto é uma conquista global, mas ao mesmo tempo, agora que chegamos podemos passar a discutir outros pontos. Tenho uma certa filosofia de que é preciso conquistar para renunciar. É bem mais difícil de renunciar à algo sem antes experimentar esse algo, e ter uma consciência clara sobre ele. Um exemplo ruim seria dizer que é difícil tomar consciência de que dinheiro não traz felicidade quando você esta infeliz sem dinheiro, mas uma vez que você conquista uma certa quantia de dinheiro e continua infeliz você começa a entender coisas... hahah...

Voltando ao assunto, porque gays (ou as pessoas em geral) querem se casar afinal? Repito mais uma vez que a legitimação do casamento gay nos Estados Unidos é uma super conquista, mas pra mim, não pelo casamento em sí, mas pela influência global que um país como os Estados Unidos pode ter no mundo tratando a homosexualidade de forma neutra, igualitária, e de certa forma valorizando o "amor" acima de tudo, independente de sexo, gênero, etc. Fora isso, a parte que envolve o catolicismo e cristianismo é a que para mim não faz muito sentido. Qual a necessidade dessas pessoas de se sentirem reconhecidas perante a instituição "Igreja" para tal união? Não questiono as crenças pessoais espirituais de cada um, trato aqui dessa questão mais "burocrática" da situação. Reconheço também os "benefícios" políticos (que não acredito que sejam tão benéficos) que o casamento possa trazer, mais aí de novo já se trata de religião como política, algo que não tem nada a ver com amor, felicidade e coisas coloridas.

Idealmente teríamos todos que nos distanciar desse tipo de relação capital-politico-religiosa e encontrar o amor e reconhecimento em nós mesmos, e não lá fora. As pessoas parecem ter preguiça de pensar por elas mesmas e tendem a sempre esperar uma solução global externa para todos os conflitos: que alguém diga, que os outros reconheçam, que os outros vejam, que os outros valorizem... Mas os outros somos nós se estamos falando de igualdade. O divino, o amor, a paz (ou como você preferir chamar) nunca vai estar no material, no exterior ou no distante. Ela está no próximo, no real, no interior, no presente.

Fico feliz que a igreja católica esteja cada vez mais caminhando na direção da abertura de espírito e reconhecimento global, mas, PESSOAS lindas do meu coração, se trata sempre e ainda da INSTITUIÇÃO POLÍTICA IGREJA CATÓLICA: a principal responsável por quase todo o mal e destruição que à no mundo (sem brincadeira!). O feudalismo, o controle absoluto, as torturas na idade média, a queima às "bruxas", a desvalorização do diferente, a dizimação das culturas originais africanas e sul-centro-norte americanas, a rejeição do prazer, o machismo, a desvalorização da mulher real, o incentivo ao sofrimento na vida com uma promessa distante de "recompensa" após à morte, o distanciamento do presente, a potencialização do medo e do sentimento de culpa... (não sei se preciso continuar ainda que poderia).

E com isso volto à perguntar: Por que precisamos dessa galera? Por querer fazer parte disso? Por que querer que "ISSO" nos aceite? Sério mesmo que é disso que as pessoas querem fazer parte? Logo vão me dizer: "Oh! Não, mas é claro que não!".. mas então é o que? Pois casar dessa forma é se afiliar à essa instituição, e se afiliar é estar de acordo com ela. Ninguém é obrigado à fazer esse ritual católico para provar o amor à ninguém. Poderíamos muito bem cada um criar seu próprio ritual e sermos felizes e originais cada um em sua bela singularidade. (Não é a biodiversidade aquela que tanto amamos preservar?)

Mas enfim, ironicamente "Graças a Deus", agora podemos entrar nesse discurso, pois uma vez conquistado, chegando nesse momento 2015, podemos experimentar, vivenciar, e finalmente (espero eu) renunciar. O caminho natural da evolução.

Que viva o original espirito GAY e a (constante) revolução!

**PS: Talvez fique mais claro nas palavras deste gênio ciêntista astrofísico.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

The Artist and The Brand

Arte e publicidade sempre andaram juntos de alguma forma. Dos posters russos construtivistas, passando pelo boom dessa união nos anos 60 com a POP art, nos encontramos hoje num cenário complexo onde muitos artistas se tornaram marcas, e muitas marcas não sobrevivem sem artistas.

Ser completamente a favor do captalismo já está fora de moda, e como artifício para manter uma credibilidade as marcas se utilizam dos artistas: no final temos a sensação que não estamos apenas comprando um produto, mas sim apoiando um artista. Do outro lado, apesar de mal visto por alguns, muitos artistas de renome aceitam e estão super confortáveis com esses tipo de colabração.

Em casos como esse, por exemplo, quem estaria em vantagem? Seriam marcas se aproveitando de artistas para vender produtos ou artistas ganhando dinheiro sobre marcas em busca de mercado? Sem dúvida vivemos um momento onde cada vez mais a figura do artísta é valorizada popularmente, o que por outro lado acaba tornando o trabalho artístico cada vez mais banal.

A postura do artísta no final se torna quase a mesma que a de uma marca. Uma estratégia de mercado para se manter “in vogue”, com uma produção que tende a agradar muito mais que ir contra. Como o que aconteceu com o Surrealismo, que “graças” à imagem de Salvador Dali, deixou de ser um movimento violento de contra-cultura para se tornar algo agradável e popular.

De qualquer forma, visto desde essa perspectiva, a existência desses produtos-arte não é completamente ausente de reflexão e isso já é um progresso. Tchau para os Andy Warhols de plantão que se deixaram fascinar por todo esse imaginário do consumo, estamos começando uma nova era!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Onde estamos nós agora

Durante as aulas de história da arte, ainda que não sejam totalmente lineares, tenho a sensação de que todos os movimentos aconteciam de uma forma organizada. Que um período influenciava um período seguinte e que essa noção era clara para os espectadores, artistas e críticos de estavam vivendo aquele momento.

Atualmente me parece bem difícil traçar um panorama artístico, a não ser que esse seja entendido como um tempo caótico onde nada se entende muito bem e tudo acontece muito rápido e ao mesmo tempo. Hoje existe muita liberdade, muitos meios, muitas escolas de arte, muita gente produzindo mas ao mesmo tempo muito pouco avanço formal e muita cópia e/ou repetição no meio artístico.

Um fator de clara influência para esse boom de informação e produção é a Internet, e em seguida tudo que se desenvolveu junto e à partir dela. Quando em 2003 o jogo online Second Life foi lançado, notícias e debates foram surgiram no mundo inteiro sobre a internet e o jogo, mas mal sabíamos nós que o ponto onde chegamos hoje vai muito mais além do que apenas controlar um personagem 3D num mundo fictício. Com a internet todo mundo ganhou voz, todo mundo ganhou “espaço no mundo” e exposição, o que é incrível e inédito na historia, mas ao mesmo tempo estabeleceu uma superpopulação de conteúdo e informações supérfluas ainda impulsionadas por marcas, mídias, consumo e etc.

A revista TIME publica anualmente uma edição na qual elege a “Pessoa do Ano” (geralmente alguém importante, que realmente mereça esse título por algum motivo) e em 2006 essa pessoa foi “VOCÊ”. Ou seja, o ego da nossa sociedade e a super-valorização do indivíduo chegaram à um ápice. Assumimos que uma pessoa qualquer que tira fotos de gatos bonitinhos pode tranquilamente receber mais atenção e visibilidade (e vai receber) que o prêmio nobel da física, por exemplo. Parece estúpido mas semana passada, no mesmo dia em que um robô pousou pela primeira vez num cometa (Missão Rosetta) o assunto mais comentado era uma foto da bunda da modelo Kim Kardashian que foi lançada no mesmo dia na capa da revista Paper.

Mesmo historiadores já tem dificuldades em documentar a última década, pelo alto fluxo, quantidade e variedade de mídias da informação. Em tempos como esse será que um jovem Hitchcock conseguiria visibilidade, postando seus videos na internet, por exemplo? Se sim, como e por quanto tempo a historia iria o presevar?

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Um minuto de silêncio

No mundo das artes somos cada vez mais engajados a nos expressar, a dizer alguma coisa, ou melhor, ter algo a dizer. Acontece que no contexto atual, falar algo é quase como entrar numa conversa de milhões de pessoas onde todo mundo fala mas quase ninguém se escuta.

Somos uma sociedade baseada na ação. Queremos mudanças: Lutamos, gritamos, nos expressamos. E queremos tudo isso rápido: somos workaholics, super-agitados e ansiosos.

Carregamos uma herança crescente de vontade de “revolucão”. A fórmula Marxista era: “Filósofos apenas interpretaram o mundo, é hora de mudá-lo.”, mas talvez o mudamos rápido demais e o que precisamos é de uma pausa para tentar interpretá-lo novamente. E para isso precisamos, ironicamente, parar de falar.

Robert Bresson, em seu famosos livro Notas Sobre o Cinematografo já dizia: Tenha certeza de ter esgotado tudo que pode ser comunicado pela calma e pelo silêncio", enquanto numa entrevista recente sobre o panorama do cinema atual J. L. Godard afirma “Hoje eu não tenho tanta certeza de termos esgotado...”.

Hoje em dia o silêncio se tornou um luxo. Estar em um ambiente sem publicidade, por exemplo, é um de fato luxo. Atividades mais silenciosas e contemplativas, como a meditação, tem se tornado cada vez mais populares. O atual sucesso da performance “The Artist is Present” e o status de celebridade alcançado por Marina Abramovic não é a toa. Nossas mentes estão implorando por silêncio.

Como artista nos resta pensar sobre como atuar em tal contexto. Como evocar o silêncio sem gritar, como mostrar sem poluir, e influenciar sem ser percebido.

sábado, 15 de novembro de 2014

Feminino, Masculino

Já faz algum tempo que meu interesse pelo “movimento” feminista vem crescendo. Apesar de começar a pesquisar e ler sobre arte feminista, tenho muitas amigas e amigas-artistas bastantes engajadas nessa discussão. Minha mãe, minha irmã de 5 anos, por exemplo, participam com frequência da Marcha das Vadias na minha cidade no Brasil. Tenho contato também com a ilustradora que pública na internet uma série de quadrinhos intitulado “Garota Siririca” (que agora vai virar livro), além de outras mini-publicações fanzine sobre feminismo e sexualidade feminina (Ética do Tesão da Pós-Modernidade vol. 1 e 2). Confesso que ainda não tenho muito embasamento teórico sobre o tema, mas sendo homem e criado por uma mãe jovem e solteira pude perceber e vivenciar bastante coisa que a maioria dos outros homens não puderam. De qualquer forma, acredito que é possível entender o suficiente apenas com um pouco de reflexão e observação na vida cotidiana e me espanta ver que pra grande parte da sociedade ocidental, ainda mais na América Latina, tal assunto seja tão mal compreendido e tratado com repúdio.

Comentei com uma amiga minha, que acabou de se formar em artes plásticas e que prática a performance sobre temas feministas, que eu estava tendo aulas sobre “arte feminista”. Ela me respondeu: “A aula dos sonhos que eu nunca tive!”. Se uma instituição de arte que se prese se nega a dar atenção e dedicar um matéria ou aula sequer ao assunto é porque ainda estamos um pouco longe, ou regredimos no percurso evolutivo desses ideais.

Em contra partida, fazem alguns anos temos uma presidente mulher no Brasil, o que me da esperanças de que nem tudo está perdido.

Hoje fui à feira MONSTRE de edições independentes e recebi um pequeno livro chamado “Sexualites, Corps et Plaisirs de Femmes”. Em resumo, ele junta relatos e explicações cientificas com relação as partes do corpo e a sexualidade feminina em geral, na maioria das vezes com o argumento de que tais assuntos sempre foram tabus, jamais discutidos e etc… E foi aí que pela primeira vez pensei que na verdade os assuntos da sexualidade masculina também “nunca” foram discutidos, ou pelo menos não como deveriam ser. Ok, falar de pinto e masturbação masculina já não é tabu faz tempo, porém tais assuntos estão quase sempre ligados à um referencial machista da sexualidade masculina. São muito poucos os referências masculinos e/ou de masculinidade que não estão relacionados ao machismo, ou à “clássica” visão da indústria pornográfica, ou a inverso, sejam classificados como “gay”.

<< Quando estive em Angola, dirigi um comercial de TV sobre violência contra a mulher. A voz que narrava o texto do comercial era de uma mulher, mas depois a agência de publicidade preferiu trocar pela voz de um homem com o argumento de que “A mensagem é para os homens, e eles vão levar mais em consideração se for um outro homem falando.”. >>

Esse é só mais um exemplo de que, o que nos faz necessário (dentre muitas coisas) é um movimento feminista “invertido”, que vá na direção de desconstruir a idéia do que é ser homem ao invés de tentar igualar o pensamento feminino ao masculino atual. Perceber isso , ao mesmo tempo que me soa óbvio parece quase utópico só de pensar no Grande Caminho (com letras maiúsculas) de descontrução de valores por onde ainda temos que passar.